texto de Eliel Batista
Me assusta quando vejo pessoas desinteressadas por qualquer conhecimento teológico, quando tudo o que aprenderam sobre sua fé vir apenas da repetição de interpretações oficiais denominacionais, terem um enorme interesse em decidirem quem é quem na sã doutrina.
Não existe teologia como verdade absoluta.
Existem sim, muitas teologias que formam o cristianismo, razão pela qual existem diferentes cristãos, denominações e linhas teológicas.
Este conflito teológico vem desde sempre quando, por exemplo, Paulo teve que resolver o problema de alguns quererem ser dele, de Apolo, de Pedro ou ainda de Cristo. Carnalidade para Paulo não era existir diferente pensar cristão, mas sim tornar isto um fator divisor, de guerra entre irmãos.
A INCOERÊNCIA
Ricardo Gondim tem sido sistematicamente acusado de: Liberal, Teísta Aberto, universalista, ecumênico, defensor da causa gay, teólogo da libertação, ateu e outros rótulos que comprovados com “provas convenientes” servem para sabe-se lá o que.
Quem assim pensa e age, nem se quer se dá ao trabalho de refletir que por si só, os inúmeros rótulos deveriam demonstrar que há algo incompreendido.
É possível alguém ser tantas coisas ao mesmo tempo? Não seria melhor pensar que outra coisa estaria sendo dita?
Dizem que suas pregações são excelentes, mas sua teologia não. Um verdadeiro contrassenso, pois toda pregação é fruto de uma teologia. Há quem chegou a dizer que a pregação agrada porque “no púlpito ele mente”.
Quer dizer, ele ficou rotulado de tal forma que os fatos não servem para nada, apenas os achismos apresentados com cara de verdade.
O que ele mesmo diz e como ele é não serve para seus opositores como comprovação do que ele crê, mas somente o que opinam sobre ele.
Aquilo que se divulga na internet é usado convenientemente como mais verdadeiro do que a própria vida da pessoa.
O FUNDO DO PROBLEMA.
Por mais que o Gondim diga que crê em Deus, em seu poder, que Deus é o único Senhor, não lhe ouvem. Por que?
Porque ele afirma que este senhorio não nega o homem e nem impõe seu poder, antes ama e liberta.
Quanto ao controle divino, mesmo sabendo que não há quem de fato tenha uma fé prática em que Deus esteja no controle, pois se assim fosse, não haveria orações, nem crenças em milagres, discordam de seu posicionamento.
Um ataque ilógico e incoerente, mas que junta provas improváveis. Vejamos!
O TEMA DA HOMOSSEXUALIDADE
Gondim posicionou-se a favor de um estado laico e, portanto, não poderia negar o direito civil da união homossexual, porém a divulgação que ocorreu em sites de fofoca gospel distorceu o fato enfatizando que ele “defende casamento gay” ou ainda que “Gondim apoia a PL122”.
Neste tema ainda, surgiu a ideia do deputado Jean em fazer uma moção de aplauso ao Frei Betto por um texto que escreveu e alguém sugeriu que fizesse também ao Gondim, tendo em vista a perseguição contra ele por se posicionar a favor do direito dos homossexuais à uma união civil.
Adivinhem qual foi a divulgação da fofoca com cara de notícia?
Que o Gondim receberia a moção por apoiar a causa GLBT.
A VOLTA DE CRISTO
Em um vídeo divulgado na internet, o Gondim apresenta de maneira breve e genérica as diferentes linhas teológicas, ou modelos da escatologia, e coloca uma “novidade”, pelo menos para os paupérrimos leitores do movimento evangélico brasileiro: uma pequena parte da teologia do alemão Jürgen Moltmann.
CONTEXTO DO RACIOCÍNIO
Como não há possibilidade de se tecer comentário sobre uma teologia, sem colocá-la em seu contexto, é importante perceber mesmo que superficialmente, quais as pilastras desta teologia.
Moltmann teve seu encontro com Cristo como prisioneiro de guerra quando lhe entregaram um N.T. com Salmos. Ele sofria horrores e profunda vergonha do que sua nação, a Alemanha, fizera.
Dedicou-se aos estudos, e não se conformava com a “Igreja Estatal” que para ele, inviabilizava o cristianismo e demonstrava um ateísmo dentro do cristianismo.
Dentro disto, viu que um grande problema do “cristianismo confessional” era de uma escatologia que negava a felicidade para o humano agora, remetendo-a somente ao futuro e tornando a fé somente teórica.
Em suma, sua conclusão sobre a teologia foi de que ela tem que ser construída à luz de seu objetivo futuro.
Escatologia não deve ser o seu fim, mas o seu começo.
Para Moltmann, criação e escatologia dependem um do outro. Existe um processo contínuo de criação, Deus não foi só o Criador, Ele é.
E por fim, a consumação da criação consistirá na transformação escatológica da criação para a nova criação.
Quer dizer, Moltmann não nega um fim, mas busca ler o texto em seu sentido prático e de seu propósito – para o que a revelação foi dada, e isto a partir da ressurreição de Cristo. Ele se esforça em transferir a Revelação para a ação, pois para ele a fé não é a-histórica, mas a história é a Revelacional.
O objetivo da revelação, portanto, é colocar o cristão como um cristão no mundo.
Voltando ao vídeo, depois que o Gondim apresentou o modelo conhecido e chamou a atenção para o que este modelo, ou ainda teoria sobre o fim, (se não fosse teoria não existiriam muitas), tem causado na prática de fé, que é a negação de uma ação cristã no mundo, propôs a escatologia da esperança de Moltmann, pois ela coloca em ação a revelação.
Em dada altura do vídeo o Gondim disse que a ideia seria sair de um modelo, mas não jogar fora o outro e ainda lança uma retórica do para que serviria este modelo de Moltmann, respondendo que tem por objetivo demonstrar o Reino hoje.
Em outras palavras, um convite para se compreender o tema Volta de Cristo em duplo sentido:
Um fim que além de ser fim, serve como modelo daquilo que devemos realizar.
Interessante a rejeição deste modelo, já que o mesmo utiliza-se das mesmas ferramentas teológicas usadas no outro.
Qualquer pré-tribulacionista para fazer valer sua teoria escatológica, lê a Bíblia em duplo sentido:
Algo que de fato aconteceu serve de modelo profético para aquilo que virá.
Pois, pergunto qual o problema de se ler algo que virá como modelo daquilo que deve acontecer?
A teologia de Moltmann propõe outro modelo, que convoca a uma prática de fé.
Mas qual a divulgação?
Que para ele a volta de Jesus é fictícia!!!
Mas qual a divulgação?
Que para ele a volta de Jesus é fictícia!!!
ESCATOLOGIA OFICIAL?
E demais a mais quem elegeu a escatologia compreendida no Brasil como a verdade oficial divina?
A história revela diferentes compreensões e interpretações para a Bíblia e isto nunca descaracterizou o cristianismo.
Já se considerou Eclesiastes como a insanidade de Salomão. E quanto a Lutero que recusava a carta de Tiago como um livro inspirado?
BREVE RELATO HISTÓRICO:
No início do século XIX John Nelson Darby, depois de ordenado pela igreja da Inglaterra repudiou-a para esperar a volta de Cristo e se uniu a um grupo puritano de Irmãos, que em 1830 formaram os irmãos Plymounth.
Suas ideias não foram bem recebidas pela igreja da Inglaterra onde não obteve muito sucesso, mas extremamente bem recebida e difundida nos Estados Unidos.
Ele escreveu 32 volumes que estruturaram os pré-milenaristas.
Ele afirmou que Deus lida com a humanidade em fases específicas. Desta maneira o relógio do tempo parou com a crucificação e ressurreição de Jesus - primeira fase, e o arrebatamento - segunda fase, faria com que o relógio do tempo voltasse a funcionar.
Disto se seguiria a tribulação, o Armagedom e aquele restante que normalmente se aprende na Escola Bíblica Dominical.
Ele insistiu em algo que a Igreja jamais admitiu: a Bíblia precisava ser lida literalmente. Se a Bíblia é Palavra de Deus, e sua palavra é profecia, e é orientadora para casa pessoa, nada demais fazer de sua leitura uma “bibliomancia”.
Nasceu assim o lema de que a Bíblia nunca erra, mas seus intérpretes sim.
Aqui cabe a pergunta:
Crendo desta maneira não é contraditório acreditar em intérpretes?
Ou ainda acreditar em quem faz afirmações categóricas de suas interpretações?
Se sim, discordar de qualquer interpretação em nome da sã doutrina não faz o menor sentido.
É Darby que trás para o contexto cristão o tema de arrebatamento, fator deflagrador do fim com o início da Grande Tribulação, inclusive acreditando que se daria antes de morrer em 1882.
Incorporado por Scofield que em sua Primeira Bíblia de Referência explica esta teoria detalhadamente.
Assim esta interpretação foi recebida no século XX no Brasil como oficial.
O PROBLEMA EM SI
Qual o pecado do Gondim? Não crer? Não! Seu pecado é pensar diferente.
Qual o pecado de seus detratores? Não querem ler, entender e nem ouvir. Tudo é pretexto.
Qual o pecado de seus detratores? Não querem ler, entender e nem ouvir. Tudo é pretexto.
No fundo não é por causa do que se pensa, é o inconsciente coletivo religioso que criou a necessidade de se ter um inimigo ou este tipo de fé não sobrevive.
Ouso afirmar que se houvesse possibilidade de se comprovar que o diabo não existe, as igrejas esvaziariam, pois este tipo de cristianismo não se desenvolve no amor, mas na guerra.
Não vejo nenhum problema naqueles que se dedicaram aos estudos, conheceram as diferentes linhas teológicas, para não chamar de teorias, e fizeram sua escolha sobre onde apoiar sua fé.
Mas considero uma grande insanidade e maldade considerarem que suas escolhas são a verdade absoluta, colocando qualquer pensamento diferente como heresia ou anticristã. E pior ainda, cheios de textos bíblicos incitar os que ignoram estes assuntos contra os que não escolheram as mesmas teorias.
Independente da linha teológica, nada mais anticristão do que incitar um contra o outro.
Eliel Batista