Os movimentos do amor

Há um grande perigo quando falamos em “amor”: deixá-lo na dimensão conceitual, inanimado, frio e estático. Fazemos isso quando falamos nele apenas teoricamente em nossas elaborações; quando aprendemos a discursar e a escrever sobre ele de forma eloqüente, mas sem nenhuma prática.

Jesus conhecia esse risco. Por isso ensinou a amar o próximo, para que o amor fosse um movimento, dinâmico e vivo, na construção da nossa vida e da vida dos outros. Não ensinou teoricamente, ensinou amando. Ele era a lição.

Para ser legítimo, o amor precisa ter desdobramentos, conseqüências históricas, capazes de transformar e inspirar a vida.

Amor se desdobra em solidariedade. Se importa com as carências do outro, se há o que comer e vestir. Se sentir indignado com a miséria é a experiência fundamental do ser humano, porque é o começo da transformação a ser empreendida para minimizar o sofrimento. Quem é solidário tem a virtude da compaixão: se responsabilizar pelo bem estar comunitário.

Amor se desdobra em alegria, porque dá razão para viver. Viver alegre não é viver sem sofrimento ou dor, é viver com esperança; saber que não está vagando. É isso que motiva a seguir em frente. Quem sabe para onde está indo não tem pressa, aproveita a jornada.

Amor se desdobra em paz. Não quer guerra, porque disputar não faz sentido. Não quer briga, porque não quer ter razão. O perigo em quem quer ter razão é acreditar-se possuidor da verdade, e se tornar capaz de matar por ela. Quem quer paz está disposto a morrer, não a matar. Quem quer paz tem a virtude da mansidão; é avesso a agressão.

Amor se desdobra em paciência. É tardio para se irritar e apressado para ensinar. O amor repete o processo quantas vezes for preciso. É como a mãe que ensina quatrocentos e trinta e seis vezes a mesma coisa, ou como o pai que dá sempre mais uma chance. É tolerar contrariedades e perseverar - prosperar o caráter.

Amor se desdobra em bondade, em bem querer. Fazer de tudo para tornar a vida do próximo melhor, mais confortável, mais feliz; mesmo que, para isso, seja preciso anular a si mesmo. Preferir pagar o ônus a ver o outro sofrer.

Amor se desdobra em fidelidade. Não negociar certas propostas, certos valores, certas histórias. É vestir a camisa. Assumir o compromisso da caminhada; ir até o fim. É largar o trabalho para passar o dia com o amigo derrotado em outra cidade, a despeito da hora e da distância. É não ver barreiras para honrar o parceiro.

Amor se desdobra em misericórdia. Sentir a dor do outro, unindo os corações. Não colocar o dedo na ferida, mas permitir que ela cicatrize. Não julgar, porque conhece o banco dos réus. É não cobrar o erro, mas perdoar – porque o amor também se desdobra em perdão.

Amor se desdobra em liberdade, porque é nela, e só nela, que ele acontece.
Todos os desdobramentos estão intimamente relacionados, porque se resumem em amar.

Não há nada mais importante na vida humana do que amar e ser amado. É por isso que creio no Deus revelado na Bíblia: porque Ele é amor – é por meio do amor que tenho experiências com Ele.
Lucas Lujan

sexta-feira, 17 de setembro de 2010 às 06:31 , 1 Comment

Cuide do seu espírito

É determinante o encontro de Jesus com a mulher samaritana, em Sicar, diante do poço de Jacó. Há nele uma revelação que orienta todo pensamento a respeito de Deus, toda elaboração, todo conceito: Deus é espírito, e procura adoradores em espírito e em verdade.


Um Deus que é espírito e procura adoração em espírito não se preocupa com o local da adoração, se é no monte ou no templo. Não há melhor local.

Não se preocupa com a religião, se é judeu ou samaritano. Não há melhor culto.

Não se preocupa com raça, se é hebreu ou babilônio. Não há melhor etnia.
Para encontrá-lo, é necessário um espírito adorador e verdadeiro. O resto é irrelevante. O espírito não se limita por barreiras externas, ele é interior, onde rótulos não têm a menor importância.

Espírito adorador e verdadeiro é aquele que ama. É aquele que tem no amor o sentido de sua existência, o critério de seus passos. Para Jesus não há maior valor do que o amor, pois resume toda Lei a ele. Não há forma de adoração mais excelente do que amar, portanto.

Aquele que ama é nascido de Deus. É adorador. Pode ser judeu, samaritano, evangélico, católico, espírita. Pode cultuar no monte, no templo, na igreja, na sinagoga, na mesquita. Pode ser branco, negro, índio ou asiático.

Toda experiência de amor é uma experiência de Deus, uma forma de culto e de adoração.

Deus não pertence a uma religião. Não pertence a um local. Não pertence a uma raça. Não pertence a uma cultura.

Jesus se revela àquela samaritana como Messias, mesmo não sendo de sua religião ou raça: ele é o Messias de Deus para todos.

Debates a respeito de qual religião é a verdadeira, qual a melhor cultura e qual o local ideal para adorar a Deus é pura perda de tempo, vaidade. Ao invés disso, invista seu tempo em amar, em se tornar um adorar em espírito e em verdade.

A revelação é que Deus pode ser adorado por todos, em todos os lugares, culturas e religiões, porque a questão fundamental não é essa, e sim o que há em seu espírito. O que importa é o amor.

Quando se fala em adoração a Deus, condições externas são pequenos detalhes, obras do acaso, pois ninguém escolhe onde vai nascer, qual será sua cultura, etnia e tradição religiosa. Essencial são as condições internas, pois essas são fruto de escolhas. Não há mascaras ou esconderijos, o que há é o espírito. Cuide do seu.




Lucas Lujan

quarta-feira, 8 de setembro de 2010 às 14:56 , 0 Comments